A declaração de Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, sobre ser contrário ao voto de sócios-torcedores nas eleições do clube, revela uma visão elitista e retrógrada que despreza a base de torcedores e revela um profundo desprezo pela democratização de uma instituição que, em sua essência, sempre foi popular. Ao afirmar que "alguém pode quebrar o clube em três meses" e que a inclusão dos sócios-torcedores no processo eleitoral facilitaria o surgimento de "discursos populistas", Landim não só subestima a capacidade de discernimento dos torcedores como também se posiciona como guardião de uma visão elitista do Flamengo, excluindo deliberadamente a massa que sustenta o clube financeiramente e emocionalmente.
A fala de Landim é baseada em uma falsa premissa de que os sócios-torcedores, em sua maioria provenientes de classes menos favorecidas e que não fazem parte da elite carioca que historicamente tem acesso aos processos decisórios do clube, seriam mais suscetíveis a cair em "promessas malucas" ou em um "discurso populista". Essa afirmação revela uma visão preconceituosa e elitista, que ignora o papel essencial que a torcida popular tem desempenhado ao longo da história do Flamengo. O clube não é patrimônio apenas de uma pequena parcela de sócios com poder aquisitivo elevado, mas sim de milhões de torcedores espalhados pelo Brasil, muitos dos quais já sustentam o Flamengo por meio do programa de sócio-torcedor e da compra de produtos oficiais, apesar das práticas abusivas de preços em ingressos e itens do clube.
O Flamengo é do Povo, Não da Elite
O Flamengo foi fundado com o espírito de ser um clube do povo, uma instituição que representa a diversidade e a paixão do torcedor brasileiro. No entanto, sob a gestão de Landim, a política do clube tem se distanciado dessa raiz popular. Os altos preços de ingressos, os valores proibitivos dos produtos oficiais e o distanciamento entre o clube e sua torcida mais humilde são claros sinais de uma gestão que privilegia a elite e exclui os torcedores de menor poder aquisitivo. Agora, ao rejeitar a ideia de que esses mesmos torcedores tenham direito a voto, Landim deixa claro que, na sua visão, o Flamengo não pertence a todos, mas sim a uma minoria privilegiada que detém o controle sobre os rumos do clube.
Se Landim teme que alguém, com o poder presidencialista que ele tanto defende, "quebre o clube em três meses", é fundamental lembrar que sob sua gestão o Flamengo já sofreu com decisões questionáveis que prejudicaram financeiramente o clube. Um dos exemplos mais emblemáticos é a sucessão de trocas de técnicos e o pagamento de vultosas multas rescisórias, como nas demissões de Domenèc Torrent, Rogério Ceni, Paulo Sousa, Jorge Sampaoli, Vitor Pereira e Tite. Essas rescisões, que somam valores milionários, mostraram a incapacidade de planejar a longo prazo, gerando um rombo nos cofres do Flamengo. Enquanto o clube arca com prejuízos dessas escolhas mal feitas, Landim vem a público dizer que os sócios-torcedores não podem votar por medo de promessas irresponsáveis. A incoerência é gritante.
Se existe uma ameaça real ao Flamengo, ela já está presente na forma como a atual gestão tomou decisões de curto prazo e sem critério, criando instabilidade no departamento de futebol e desperdiçando recursos que poderiam ter sido melhor investidos. A tentativa de Landim de culpar um futuro "populismo" é uma forma conveniente de desviar o foco de sua própria responsabilidade nos erros de sua administração.
O Paradoxo da Contribuição: Estádio com Dinheiro da Torcida, Mas Sem Voz
Além de todas as contradições em sua fala, Rodolfo Landim sugeriu recentemente que a torcida, a mesma que ele exclui do processo eleitoral, deve contribuir para a construção de um novo estádio para o Flamengo. Essa proposta não é ruim, porém ela contrasta com o absurdo da torcida só ser convocada a participar na hora de contribuir financeiramente e ser rejeitada na hora de contribuir com opiniões e participar de processos decisórios.
Como pode Landim pedir que os torcedores, em especial os sócios-torcedores, colaborem financeiramente com o que quer que seja, enquanto ele e sua diretoria representam, em si, a negação a esses mesmos torcedores o direito de patticipar do dia-a-dia, de debater e opinar nos rumos do clube? Trata-se de um claro exemplo de exploração da paixão popular: para Landim e seus aliados, o torcedor é bom o suficiente para gastar dinheiro com o clube, mas não merece ter uma voz ativa nas decisões que afetam o futuro da instituição.
Essa postura reflete a visão de Landim de que o Flamengo é um clube gerido por uma pequena casta de sócios com alto poder aquisitivo, que detêm o controle político, enquanto a massa de torcedores — que ama o Flamengo e sustenta boa parte da receita do clube — deve se limitar a consumir produtos e ingressos cada vez mais caros.
A Urgência da Democratização
Se o Flamengo deseja se consolidar como um clube democrático e inclusivo, é essencial que se amplie o colégio eleitoral e se permita que os sócios-torcedores tenham direito a voto. O argumento de que a governança do clube é "superpresidencialista" apenas reforça a necessidade de maior participação e fiscalização por parte da torcida. Um sistema em que o presidente tem poder quase absoluto, como o próprio Landim descreve, é um risco enorme para o clube. E essa concentração de poder nas mãos de poucos é o que torna o Flamengo mais vulnerável a decisões desastrosas — como, ironicamente, as feitas pela própria gestão de Landim.
A expansão do direito de voto para os sócios-torcedores e a popularização do quadro de candidatos é uma forma de garantir que o Flamengo continue sendo um clube do povo e não se transforme em uma instituição elitista. O medo de que torcedores "menos preparados" possam votar mal é uma visão ultrapassada, que subestima a capacidade crítica da massa rubro-negra. O Flamengo é um patrimônio cultural, social e esportivo do Brasil, e negar aos seus maiores defensores, os torcedores, o direito de participar ativamente de sua gestão é uma atitude antidemocrática e antiética.
As falas de Rodolfo Landim revelam uma gestão que despreza o torcedor comum e que mantém uma visão elitista sobre quem deve decidir os rumos do Flamengo. Sua recusa em permitir que os sócios-torcedores votem nas eleições do clube é um sintoma de um problema maior: a desconexão entre a direção do Flamengo e a sua imensa e apaixonada torcida. Em vez de temer "populismos" ou "promessas irresponsáveis", Landim deveria estar mais preocupado com as próprias decisões erráticas de sua gestão, que já trouxeram prejuízos ao clube.
A democratização do Flamengo é urgente. O clube precisa retornar às suas raízes populares e permitir que a voz de sua torcida seja ouvida nas decisões mais importantes. Só assim o Flamengo poderá continuar crescendo de forma sustentável e democrática, mantendo-se fiel à sua essência de clube do povo.
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